No subsolo social.

Sabe aquele botão que a maioria dos elevadores tem com um “SS” que leva a gente para o subsolo? Pode ser loucura minha, mas sinto que certas pessoas selecionam voluntariamente esta opção no elevador da sociedade.

Não estou falando dos/as desfavorecidos/as, necessitados/as, marginalizados/as… estes/as, quase sempre nem tem escolha… não têm o privilégio de adentrar num elevador desses… pelo contrário, me preocupo com quem se exclui por excessiva exigência, excessiva crítica, rigor.

Existe quem seja tão austero em seu senso crítico que acaba por ficar sem ter o que recomendar, o que gostar, admirar. Assevera com tanta rigidez seus padrões mais íntimos que passa a excluir quem não se enquadre ao seu “esquema”.

O que acontece? O sujeito vai se afastando do que seja “ruim”… encontrando ruindades e defeitos por onde quer que vá, em pessoas, em organizações… nada lhe cabendo, nada lhe despertando entusiasmo.

Conheço pessoas que estão tecendo casulos! Gastando seu tempo e energia para detectar problemas, ou melhor, justificativas que fundamentem seu distanciamento, seu desligamento social… sem perceber o quanto é difícil encontrar alguém ou alguma coisa que lhes complete o grau de reivindicação que construíram ao longo da vida.

Com a distância vem o “encasulamento”, o ostracismo e o enclausuramento… desencadeando um processo crônico de frustração e tristeza, onde não há quem sirva.

Diante disso tudo, procuro olhar com os olhos de Cristo… aquele homem palestino, de profissão modesta, de aparência simples, amigo de pescadores rudes, com aparência de glutão e beberrão… visto no meio de gente pobre… e considerado por alguns até mesmo um descumpridor da lei.

Com que medida julgava Jesus? Qual seu grau de exigência? É certo, Ele foi crítico, incisivo, duro com os santarrões da época, contudo, não os desprezou… a meu ver, Jesus não considerava a imperfeição, a “falta de alcance”, como um pecado tão sério, a ponto de deixar de lado, discriminar, marginalizar quem quer que fosse.

Pelo contrário, Jesus amava as pessoas equivocadas de sua época… existia sempre uma segunda chance, uma segunda milha, uma segunda face para garantir que os/as “errados/as”, os/as equivocados/as, tivessem o direito de serem acolhidos/as no novo reino que Ele propunha.

Jesus foi o crítico mais doce desse mundo! Talvez porque atrás de sua crítica, houvesse sempre sentimentos como paz, perdão, reconciliação e boa vontade.

Ninguém foi mais duro e ousado… o azorrague é um exemplo clássico! No entanto, ninguém foi mais gentil… o ladrão – símbolo de rompimento total com o Reino de Deus – ouviu d’Ele, “… hoje mesmo estarás comigo no paraíso…”.

A crítica Divina, demonstrada em Cristo, é absurdamente transformadora! Ele não somente continua ao lado das pessoas que criticava – os exemplos de Pedro, Judas mostra isso claramente – mas tem a coragem de dar tudo para melhorá-las – a própria vida.

Jesus não se excluiu, não optou pelo “SS” do elevador, não se enfiou dentro de um casulo de observações… pelo contrário, se meteu no meio de um povo complicado… sentou com eles, teve longanimidade, participou de suas festas – chegou até a providenciar vinho para que uma delas não acabasse antes da hora – mas também esteve com eles em seus momentos de dores… andou e chorou com eles!

Não houve distanciamento na critica de Cristo… ele sempre se retirava – para orar – e voltava ainda mais comprometido… ele não se escondeu, não se esquivou… criticou e conviveu.

Fico com a tristeza de não ver em nosso tempo uma crítica eminentemente cristã… em loco, presente. Temos que parafrasear aquela propaganda tão conhecida: “não adianta ser crítico, tem que participar”! Não adianta saber onde está o erro, tem que ajudar a resolver! Não adianta falar, tem que estar presente e fazer alguma coisa!

Que Deus nos ajude com sua Graça e nos dê, sempre, a paz!

Rev. Nilson

Published in: on março 15, 2008 at 5:30 pm  Comments (1)  

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  1. Incrível… hoje pela manhã eu pensava em como tenho estado enclausurada… refletindo, cheguei à conclusão que me desencantei com o ser humano…
    Porém, vou tentar olhar minha clausura com outros olhos… esses olhos citados em seu texto…
    Abraços…


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