Vistas grossas.

Temos o mau hábito de desconsiderar os defeitos de quem amamos!

Isto me faz lembrar da música “Meu Guri”, de Chico Buarque de Holanda… uma alusão à mãe (ou pai) de um marginal mirim que faz “vistas grossas” para os “presentes” que o menino lhe traz da rua, na verdade, os frutos de seus pequenos furtos.

Infelizmente, não é só a personagem do célebre autor que tem essa “mania”… cada um/a de nós elege alguém na vida para amar cegamente, de olhos fechados!

O que não entendemos, na maioria das vezes, é que esse “fechar de olhos” age negativamente na vida da pessoa querida, na nossa própria e no meio em que se vive.

A opção por não querer ver as limitações de quem se quer bem, ao contrário do que se pensa, é sinal de ilusão e não de apoio, de negar auxílio a alguém que poderia ser melhor se tivéssemos a coragem de ajudá-la, mostrando-lhe questões a serem repensadas.

Omitir não significa resguardar, pelo contrário, só faz expor quem consideramos ao ridículo, ao equívoco e a dor!

Nem sempre, os/as verdadeiros/as amigos/as são os/as que falam palavras doces! Amigo/a, de fato, é o/a que se arrisca para salvar a gente… vem ao nosso encontro pra nos melhorar e nos livrar do que nos atrapalha.

Sabemos que perceber limitações não é um costume freqüente na vida. Gostamos de salientar qualidades, especialmente se forem nossas. Os entraves, deixamos de lado, a não ser que seja de outrem. Precisamos admitir… este é um pecado recorrente nos mais diversos ângulos sociais.

Isto nos remete a um corajoso ilustre… líder, famoso, e audacioso o suficiente para se expor, se despir, reconhecendo: “Tenho um espinho na carne”… um incômodo, uma “pedra no sapato”.

Apesar de não estarmos certos/as do que foi esse “espinho” na vivência do Apóstolo Paulo, podemos colher frutos de sua bravura em assumi-lo, ao notarmos que espinhos não são pra ficar escondidos, como segredos, íntimos, sustentando dores em nossa vida.

Aliás, é preciso entender que se há um atrapalho qualquer afligindo nossa carne, ou de uma pessoa próxima, é necessário fazer alguma coisa! Não se pode condescender com o sofrimento!

Existem farpas superficiais, outras mais profundas… umas que precisam somente de uma pinça pra sair, mas, também as que carecem de uma pequena cirurgia.

A dor pode ser grande ou bem pequena… o certo é que para nos desvencilharmos de nossos incômodos, ou ajudarmos nossos/as queridos/as a se livrarem dos seus, primeiramente, é preciso reconhecer os defeitos que fincam a carne de nossa vida, nos transformando em pessoas doloridas e problemáticas.

Para nosso próprio bem… para o bem de quem gostamos, nossos olhos devem estar abertos e atentos a qualquer desacerto.

Não resolve nada pra ninguém tentar esconder o óbvio, o que todos/as vêem, o que está evidente a qualquer um/a. Para o progresso da vida e dos relacionamentos que a sustentam, carecemos de sinceridade… é claro, não aquela que expõe e envergonha, mas a que constrói superação, melhoria e aperfeiçoamento naqueles/as que queremos bem.

Nem sempre doer é sinal de tristeza… existem dores benéficas… as que nos livram de nossos incômodos, são um exemplo bem prático!

Espero, sinceramente, que saibamos viver essa dinâmica de ajuda mútua, que não tem relação com esconder os espinhos ocultos… pelo contrário, age na remoção dos entraves que ferem nossa paz.

Que Deus nos abençoe e nos guarde!

Na graça e na paz,

Rev. Nilson

Published in: on junho 1, 2007 at 1:58 pm  Deixe um comentário  

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